sábado, 15 de dezembro de 2012

Da série: Eu confesso

Meu primeiro sonho foi ser escritora e morar em Londres. Sempre gostei de escrever. Hoje escrevo um blog. Mas há mais de seis anos que eu não vou a Londres. Sinto falta de lá. Em vidas passadas eu devo ter vivido lá, como nobre. Se fosse uma pobretona eu acho que não me identificaria tanto com aquela terra.

Aos quinze anos comecei a aprender violão. Eu e minha amiga Marcia. Tive aulas durante uns dois anos. Pensamos em formar uma banda, compusemos algumas músicas e ficávamos nos achando! Mas não vingou.

 Pensei em seguir carreira de violonista. Cheguei a começar a me preparar para prestar exame no Conservatório. Além da teoria tinha que executar um prelúdio de Villa Lobos. Dos seis prelúdios, escolhi o número dois por ser o mais palatável. Sinceramente? Acho Villa Lobos um chato de galochas! Suas composições são chatas, desarmônicas e propositalmente complicadas! Talvez a única que se salve é o Trenzinho Caipira e olhe lá! Não entendo essa veneração toda com ele! #Prontofalei!

Mas minha carreira de musicista durou pouco. Nunca fui boa em ler partitura, e o tal prelúdio era bem complicado. Nem cheguei a prestar os exames.  Nunca toquei tão bem quanto a Marcia. Meu ouvido musical também nunca foi tão bom quanto o dela. Confesso que tinha inveja. #Prontofalei!

Confesso que ouvi pessoas falando que ela tocava melhor do que eu. Na época isso me magoou muito. Confesso que também ouvi pessoas comentando que eu não tocava muito bem, mesmo sem me comparar com ninguém. E isso me deixou chateada.

Mas como eu tenho senso crítico, no fundo eu também achava que não tocava tão bem assim. E a vida seguiu.

5 comentários:

Márcia disse...

Passado o choque inicial, vou tentar expressar a minha perplexidade de maneira ordenada. Villa Lobos desarmônico? HELLO-O? E aquelas bachianas mais lindras do mundo? E (quase) todo o conjunto da obra?
Ainda mais grave: você um dia ouviu uma voz murmurar ao longe que eu tocava melhor do que você e VOCÊ ACREDITOU? E SE ABORRECEU AINDA? Percebo que é chegada a hora de encarar a realidade, de frente e de óculos pra não perder nenhum detalhe. Prestenção: NENHUMA DE NÓS TOCAVA PN. Prontofalei. A gente se achava porque, como tão bem já disse Nelson Rodrigues, "todo jovem é um imbecil". O fato de que os outros jovens fossem ainda mais imbecis ajudou a criar esse mito de que a gente fazia alguma coisa que prestasse. Que nada. Nós éramos (e eu continuo sendo) preguiçosas demais até pra nos dedicar ao que a gente mais gostava. Pergunta ao Baden (não dá mais, já morreu) se ele passava a maior parte do tempo bundeando pela vida ou se tocava POR PARTITURA, obviamente, 20 horas por dia.
Acho que a sua verdadeira operação foi uma lobotomia, não avisaram a família, e agora você está aí com as memórias trocadas. Prontofalei.

picida ribeiro disse...

Nem posso opinar sobre seus dons musicais,não posso opinar sobre musica.
De musica, a unica coisa que sei, é ouvir as que gosto, boas ou não..
Escritora vc é, e das boas!!
Adorei a Marcia!!!

Márcia disse...

Obrigada, Picida. E Feliz Ano Novo! Já que o mundo não acabou, então que melhore e que a gente aproveite.

Lucy in the sky disse...

Picida, obrigada pelo elogio! É um prazer te-la como amiga virtual!

Marsh, o fato de eu achar que você tocava melhor do que eu não foi por causa de comentários maldosos de certa "amiga", que apesar de ter inspirado nosso maior sucesso (Meu Nome é O...)era mais falsa do que nota de 3 Reais. Confesso que ouvi-la comentar me deixou magoadíssima na época, mas o meu ferrenho senso crítico de virginiana nunca me dexou dúvidas quanto a isso sem precisar ninguém verbalizar. Mesmo não sendo nenhuma de nós um Baden Powell ou um Paco de Lucia da vida.
Em relação ao Villa Lobos, para mim ele é tão chato que até me esqueci das Bachianas, que realmente são excessões. Mas de resto...

Márcia disse...

Não, senhora. Na-na-ni-na-ni-na-não. Se o que o seu virgianismo ferrenho precisa é de um veredito 'da maestro', pois ei-lo: o próprio Leif declarou que a sua mão esquerda era melhor do que a minha e a minha mão direita era melhor do que a sua. Juntas, portanto, talvez pudéssemos tocar alguma coisa que prestasse.