terça-feira, 23 de outubro de 2012

Essa nota se destina a pessoas que se dão ao trabalho de acessar meu blog e deixar comentários "elucidativos".

Sim, eu sei que Confesso que Vivi é o título de um livro de Pablo Neruda. Já sabia disso inclusive quando batizei esse blog. Não me consta que eu tenha que pagar direitos autorais à família do escritor por usar uma frase de lugar comum como título de um blog de internet. Um entre milhares de outros.

Que Neruda viveu mais do que eu é certo. Se viveu mais intensamente eu já não sei, pois o conceito de intensidade é relativo. O que é intenso para Neruda pode não ser para mim e vice versa. Mas é mais cômodo pensar que um escritor famoso teve vida mais intensa do que uma ilustre desconhecida que escreve suas reflexões na internet.

Sei também que Lucy in the Sky with Diamonds é o título de uma canção dos Beatles. Sempre soube, e por isso mesmo utilizo como pseudônimo. Também não me consta que eu tenha que pagar direitos autorais por isso.

 Também estou ciente que esse blog é público, qualquer um pode acessar e deixar comentários, inclusive "anônimos" que são tão covardezinhos e preguiçosos que nem se dão ao trabalho de inventar um nome falso, só para dar "personalidade" ao comentário.

Ninguém é obrigado a concordar com nada do que escrevo aqui. Ninguém mesmo. Como diziam os antigos: "Quem fala o que quer, ouve o que não quer." Ou nesse caso, quem escreve o que quer, lê o que não quer.

Mas o direito de resposta é garantido!

Ficou claro?


domingo, 14 de outubro de 2012

Fuga

Fugi. Os mediquinhos eram bonitinhos mas todos ordinários. Depois de dar falsas esperanças, me aparece um outro cirurgião diferente do primeiro, novinho e arrogantezinho, que entrou no meu quarto sem bater e me disse assim na lata que eu teria que ser operada.

Fiquei sem fala. Quando a recuperei disse que tudo bem, mas eu tenho direito a uma segunda opinião. E que para ter uma segunda opinião eu teria que sair dali. Ele disse que não poderia me dar alta. Uma voz interior me gritava: "SAI DAÍ AGORA!!!"

Poucas vezes eu escuto minhas vozes interiores, e sempre me dou mal por isso. Desse vez eu resolvi escutar. Ele disse que se eu quisesse ir seria por minha conta e risco e que eu teria que assinar um termo de responsabilidade. Eu falei: "Assino agora!!!" Bem que meu irmão que tinha dado uma voltinha pela clínica constatou que a mesma estava vazia de pacientes.

Veio a enfermeira tirar o soro, veio uma junta de mediquinhos bonitinhos me fazer mudar de idéia dizendo que meu estado era grave. Fizeram terrorismo com meu marido, irmão e filho. Mas eu saí do inferno. Sem medicação sem nada. Não quiseram me prescrever nada.

No dia seguinte procurei Dr. Romeu (nome fictício), o ginecologista que me operou. Contei tudo e ele me indicou um colega cirurgião. O colega viu meus exames e constatou que como meu estado clínico é bom eu poderia ser tratada com antibióticos e talvez não haja necessidade de cirurgia. Pelo menos a curto prazo.

Faz 12 dias que eu saí do inferno. Até agora não morri, contrariando a previsão dos médiquinhos bonitinhos. Claro que vou me cuidar e se tiver mesmo necessidade vou operar. Mas não assim de qualquer jeito.

Semana que vem volto no médico. Estou mais disposta, apesar de deprimida. Ontem até fiz supermercado. Isso é tudo por enquanto.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

De noite na cama do hospital

Pouparei meus leitores da minha segunda noite na enfermaria por uma questão de caridade principalmente comigo mesma.

O fato é que meu amado marido ao me ver debulhada em lágrimas, deprimidíssima com a possibilidade de uma longa estadia e correndo o risco de ir fazer companhia a Dona Creozodete no CTI por conta de uma depressão profunda, resolveu me salvar tal qual cavaleiro andante. Me abraçou e me assegurou: "Vou te botar em um quarto. Vou ficar com você!" Como não se apaixonar por um homem assim? E aqui estou, sozinha no quarto. O tédio me consome, mas mil vezes aqui do que o carma coletivo que eu enfrentei.

Diverticulite. É o nome do que eu tenho, segundo o médico gatésimo que olhou meus exames. Aliás, os médicos daqui são todos gatos. Gatos bem novinhos por sinal. Se eu tivesse muitos anos a menos...
Mesmo assim não trocaria meu príncipe salvador que me resgatou from hell nem por um balaio cheio de gatos médicos. Mas olhar não é pecado!

Diverticulite foi o que matou Tancredo Neves. Pelo menos era o que diziam. Meu problema é um pouco maior porque inflamou e um abcesso começou a surgir. Mas segundo o Dr. Gato já que eu estou reagindo bem ao tratamento com antibióticos e o intestino funciona normalmente não haverá necessidade de cirurgia. Mais uns 2 ou 3 dias de controle e poderei ir para casa terminar o tratamento via oral. Assim não iremos a falência.

Tenho que deixar de me sentir invulnerável. Tenho que começar a me sentir velha.

Primeira noite

Meu prano de saúde dá direito a enfermaria ao invés de quarto particular. Se você quer ter a confirmação de que o inferno são os outros, passe uma noite numa enfermaria e terá certeza!

Fui encaminhada aos prantos para minha cela, ops, quarto coletivo. Lá chegando já tinha uma senhora ocupando o outro leito. A filha se preparava para passar a noite no sofá cama. Oiii??? E pode acompanhante em enfermaria???

Durante todo o tempo em que eu me acomodava, mãe e filha falavam sem parar. Depois de muito custo consegui com a enfermeira uma toalha para tomar banho. Lá estava eu no chuveiro quando escuto batidas na porta. Exclamei contrariada: "Pode entrar!"
Mais batidas. E eu já ficando puta: "O QUE É???" A porta se abre e entra a mãe com a filha atrás segurando o soro: "Ela precisa ir ao banheiro."

Porra, precisou eu entrar no banho para bater vontade???

Volto para minha cama tentando descansar. Mas as duas não param de falar. E já eram mais de 10 da noite.  Chegam dois enfermeiros para aplicar remédios na véia e em mim. Viro de lado e fecho os olhos, desejando com todas as forças estar sozinha lá.

Começo a escutar: "Ai, ai! Ui, ui!" Era a véia gemendo. Daqui a pouco escuto a filha: "Mãe??? MÃE???" Chegam dois enfermeiros. Um deles, provavelmente com talento para arte dramática, começa a exclamar: "Dona Creozodete!!! DONA CREOZODETE???" (nome fictício) "Aperta a minha mão!!!"

Aí já era demais!!! Tive que me virar para ver o que acontecia. Ao ver que eu estava olhando, a beesha dramática fecha a cortina na minha cara.

Levaram a véia para o CTI. A filha aos prantos decide ir para casa pois não se permitem acompanhantes lá. Liga para uma amiga ir busca-la.

E eu fico impressionada com o poder da mente! Quem diria que eu tinha tanta energia mental.  Em pouco tempo fiquei livre da mãe e da filha e com a enfermaria só para mim. Era 1 da manhã. Finalmente consegui dormir.

Pena que não consigo mentalizar com a mesma energia os números da mega-sena acumulada.

Para aqueles que estão com peninha da Dona Creozodete que foi parar no CTI pela força do meu pensamento, pensem que podia ter sido pior. Já pensou se ela fosse para o necrotério?